Tirei esta notícia do jornal i. Tem todo o interesse e refere-se a algumas coisas de que já falámos nas aulas.

Como pensa um pedófilo? O que vai na cabeça de 13 agressores sexuais
Investigadores portugueses concluíram que o cérebro dos pedófilos funciona de forma diferente
John Phillips, da banda Mamas and the Papas teve relações incestuosas com a filha menor
O cérebro de um pedófilo não é diferente dos demais, mas a maneira como as várias regiões comunicam entre si apresenta algumas singularidades. A conclusão é de um estudo de um grupo de investigadores portugueses, terminado há pouco mais de duas semanas.
Em Janeiro deste ano, Luís Maia, professor na Universidade da Beira Interior (UBI) e doutorado em Neuropsicologia clínica, juntou-se a cinco inspectores da Polícia Judiciária (PJ). Deu-lhes formação e, meses depois, estavam a estudar o cérebro de 13 pedófilos, detidos no Estabelecimento Prisional da Guarda.
Depois de meses a fio passados em entrevistas pessoais com reclusos, testes neuropsicológicos e exames imagiológicos, os investigadores concluíram que, do ponto de vista neurológico, o cérebro dos pedófilos não é diferente do das pessoas ditas saudáveis. No entanto, existem alterações do ponto de vista funcional, especialmente nas zonas pré--frontais do cérebro, que se mostram deficitárias. Trocando por miúdos: a cabeça de um homem que abusa sexualmente de crianças é igual a todas as outras e não apresenta alterações físicas, mas a maneira como as várias zonas do cérebro comunicam entre si é diferente. "Em especial na zona pré-frontal", explica Luís Maia, professor, neuropsicólogo e orientador da tese "Estudos de casos de pedófilos portugueses à luz da neuro- psicologia".
A actividade pré-frontal do cérebro - que, no caso dos pedófilos, é deficitária - está ligada à regulação emocional. As emoções e os impulsos irracionais partem do sistema límbico e são travados na zona pré-frontal - responsável pela adequação do indivíduo às normas sociais.
"É a zona do cérebro que tradicionalmente é identificada como crucial na aprendizagem moral", explica o investigador. Ou seja, nos pedófilos a emoção predomina sobre a razão.
Os testes feitos aos reclusos não só mostraram alterações nessa zona como revelaram dificuldades na tomada de decisões e no raciocínio social. "Têm um transtorno de personalidade anti-social e um transtorno da atenção e apresentam um quadro de ansiedade e disfunções ao nível do comportamento social", explica Luís Maia.
Como pensa um pedófilo? Os pedófilos são, em regra, hiperactivos ("parecem ter uma energia ilimitada e que é direccionada de forma desorganizada"), não têm qualquer capacidade de planeamento e sofrem de perseveração ("repetição continuada e persistente de uma ideia ou objectivo") no momento de atingir os seus fins. "Têm um perfil impulsivo, dificuldade em prever as consequências dos seus actos, em perceber que é preciso respeitar o outro", explica Luís Maia. A percepção que os pedófilos têm do "outro" é a de mero objecto de satisfação. "E não pensam nas consequências que os seus desejos podem ter nos outros e em si próprios", acrescenta o investigador. Além disso, são maioritariamente homens e anti-sociais, que "vêm o outro como alguém distante".
As alterações na região pré-frontal do cérebro podem conduzir a dois tipos de comportamento diferentes. Ou se cai na pseudodepressão, em que há um quadro de apatia, carência de impulsos, indiferença, falta de motivação e redução da fala. Ou se sofre de pseudopsicopatia, com grande desinibição sexual, agitação, impulsividade, irritabilidade e alteração do juízo social. "Os pedófilos, à semelhança dos psicopatas, inserem-se neste último grupo", explica o investigador.
No estabelecimento prisional da Guarda há 14 detidos por abusos sexuais. "Tínhamos algum receio na abordagem, porque sabíamos que os agressores sexuais, dentro das prisões, vivem à margem dos outros reclusos, que os põem de parte", admite Luís Maia. No entanto, 13 deles - quase todos entre os 30 e os 40 anos - aceitaram participar no estudo, que é, desde logo, inovador "ao cruzar dados neuropsicológicos com dados imagiológicos". Mas a investigação teve outra particularidade: "É a primeira vez que um grupo de reclusos sai da prisão para participar numa investigação científica e para fazer exames em clínicas privadas", sublinha Luís Maia. A primeira fase do estudo decorreu atrás das grades. Os 13 reclusos foram submetidos a inquéritos neuropsicológicos, que procuraram testar o cálculo mental, a capacidade de leitura, a atenção, a memória e a concentração. "Sempre na perspectiva de resolução de problemas, para estudar o lobo pré-frontal", explica o orientador da tese.
Depois de aplicados os questionários - tarefa que coube aos inspectores da PJ, a segunda fase decorreu num centro de imagiologia, em que os reclusos foram submetidos a uma ressonância magnética ao crânio, "para perceber se apresentavam alguma deficiência neurológica passível de ser associada aos comportamentos que tiveram".
falta de atenção e concentração "Se se pedir a um pedófilo que se levante da cadeira com uma folha A4 na mão e a ponha dobrada em cima de uma mesa, ele não se limita a dobrá-la ao meio; dobra-a até não conseguir dobrá-la mais", exemplifica Luís Maia, para ilustrar a forma de pensar de um agressor sexual de crianças. O que acontece - e os testes demonstraram-no - é que o pedófilo "não consegue planificar as actividades que lhe são propostas e centra-se apenas no objectivo final, perdendo-se a meio", explica. Além disso, o investigador acredita que os problemas de atenção e de concentração detectados durante a resolução dos problemas "podem ser um preditor de potenciais agressores sexuais". Nos testes a que foram submetidos, os reclusos mostraram dificuldade em exercícios como a nomeação de palavras e em questões de memória, atenção e controlo da impulsividade. "Não planearam as actividades antes de as iniciarem e mostraram perda de iniciativa em alguns dos exercícios."
Como nasce um pedófilo Segundo a American Psychiatry Association, a pedofilia é uma parafilia (uma anomalia ou perversão da sexualidade). Portanto, considera Luís Maia, "é uma doença mental". Mas como nasce um pedófilo? Neste campo os investigadores divergem, mas há aspectos considerados determinantes em todos os estudos. "Se um indivíduo tiver uma propensão maior para a agressividade, para a maior sexualidade e apresentar traços personalistas, tem maior tendência", explica Luís Maia.
A estas predisposições junta-se a edução. "A maioria dos pedófilos teve uma educação demasiado rígida ou, pelo contrário, demasiado anárquica em termos de regras." Quanto à crença de que quem foi vítima se torna autor de abusos, Luís Maia acredita tratar-se de um mito. "Pode acontecer, mas ter sido vítima de abusos não é um passaporte garantido para se vir a ser autor de abusos", defende.